Além do tapete do MET Gala: a moda como instrumento de arte e cultura

Por Helena Serpa & Paula Serpa
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Muito além do brilho e glamour, o MET Gala 2024 revela a moda como uma poderosa ferramenta de expressão artística, cultural e social, onde história, empoderamento e educação se entrelaçam.

O Metropolitan Museum of Art ‘s Costume Institute Gala, ou simplesmente MET Gala, é o ponto alto do calendário de moda, um evento que transcende o glamour das celebridades e os trajes extravagantes. Mais do que uma simples festa, o MET Gala é uma plataforma onde a moda se encontra com a arte, a cultura e até mesmo a política. 

Na última segunda (06), o tema “Belas Adormecidas: O Despertar da Moda” desafiou os participantes a explorar a história, a tradição e a evolução da moda como uma forma de expressão artística.

Tendo como dress code* “Os jardins do tempo” os trajes apresentados no evento não eram apenas peças de roupa; eram contos visualmente deslumbrantes que evocavam diferentes períodos da história da moda. Dos moldes feitos com areia aos vestidos quilométricos em tecido preto, cada criação no tapete vermelho do MET Gala contava sua própria história, tecendo uma tapeçaria vibrante de expressão cultural e artística.

Afinal, o que significa esse tema?

Sob a curadoria meticulosa de Andrew Bolton, a exposição “Sleeping Beauties: Reawakening Fashion”, que inaugura no dia 10 de maio, oferece uma viagem através de mais de quatro séculos de moda. Desde os elaborados corpetes elisabetanos até os deslumbrantes vestidos de baile de mestres como Christian Dior e Elsa Schiaparelli, cada peça conta sua própria história de reinvenção e redescoberta.

A inspiração por trás do tema não é apenas estética, mas também poética. Assim como as belas adormecidas dos contos de fadas, essas peças requintadas e históricas precisam ser “redespertadas” com a ajuda da tecnologia moderna, um esforço monumental que destaca a fragilidade e a importância de preservar o patrimônio da moda.

Além disso, o dress code temático, intitulado “O Jardim do Tempo”, baseado no conto de J. G. Ballard, adiciona uma camada adicional de profundidade à experiência. Com sua reflexão sobre a agem do tempo e a efemeridade da beleza, o tema inspira os convidados a explorar não apenas a evolução da moda, mas também as mudanças e os ciclos da vida.

O Met Gala 2024 não é apenas uma festa glamorosa, mas um tributo à riqueza cultural e histórica da moda, oferecendo uma oportunidade única para celebrar, refletir e inspirar-se no fascinante mundo do estilo.

Que fútil o quê! A Moda como empoderamento e expressão

Uma das características mais poderosas da moda é sua capacidade de desafiar normas e preconceitos sociais, promovendo a diversidade e a inclusão. No MET Gala de 2024, essa dimensão da moda foi amplamente explorada, com muitos participantes usando seus trajes para expressar mensagens de empoderamento e igualdade.

Um deles foi o heptacampeão de Fórmula 1, Lewis Hamilton ao revelar que seu traje foi inspirado em John Ystumllyn, um dos pioneiros jardineiros negros no Reino Unido. O piloto mergulhou na história desse notável profissional do século 18. Em uma entrevista à Vogue, ele destacou a resiliência de Ystumllyn diante das adversidades da escravidão, ressaltando a dor causada pelo comércio de escravos através de sua escolha de vestuário e órios.

Hamilton não apenas celebrou a habilidade de Ystumllyn como jardineiro, mas também reconheceu sua luta contra a injustiça racial. O jardineiro foi retirado de sua casa na infância para trabalhar para aristocratas galeses, mas nunca foi escravizado, encontrando sucesso em sua profissão graças a sua habilidade natural.

Dos designs audaciosos que desafiavam noções convencionais de gênero à celebração de diferentes identidades culturais e étnicas, o tapete vermelho do MET Gala foi um espaço de celebração da diversidade e da individualidade. Cada escolha de moda foi uma declaração de auto expressão e resistência, lembrando-nos do poder transformador da moda como forma de protesto e afirmação de identidade.

Educação através da Moda

Além de ser um evento de moda de prestígio, o MET Gala também é uma oportunidade educativa valiosa para inspirar as gerações futuras de criativos e inovadores. Ao destacar a interseção entre moda, arte e cultura, o evento oferece uma plataforma única para engajar os jovens e estimular sua criatividade e consciência social.

Através de iniciativas educacionais como exposições temáticas, workshops e programas de mentoria, o MET Gala pode ajudar a cultivar uma nova geração de talentos na indústria da moda, incentivando-os a explorar novas ideias e perspectivas. Ao fazê-lo, não apenas preservamos o legado da moda como forma de arte, mas também garantimos que ela continue a evoluir e inspirar as futuras gerações de criativos.

A fragilidade da moda como arte

Apesar de sua capacidade de expressar poder, cultura e identidade, a moda também é inerentemente frágil. As peças de roupa, mesmo as mais elaboradas e luxuosas, estão sujeitas 

ao desgaste natural, à agem do tempo e às mudanças de tendências. Tecidos delicados podem rasgar, cores vibrantes podem desbotar e estilos outrora considerados modernos podem se tornar obsoletos. A própria natureza da moda, sempre em constante evolução, implica em um ciclo contínuo de criação e desaparecimento.

Essa fragilidade é ainda mais evidente quando consideramos a moda histórica. Peças centenárias, como os corpetes elisabetanos e os vestidos de baile mencionados no texto, requerem cuidados meticulosos para sua preservação. A exposição “Sleeping Beauties: Reawakening Fashion” demonstra a importância de utilizar tecnologias modernas para restaurar e proteger essas relíquias do ado, garantindo que a história da moda não se perca com o tempo. 

A fragilidade da moda nos lembra que a beleza é efêmera, mas também nos motiva a apreciar e valorizar o poder da expressão individual e a criatividade humana presentes em cada peça de roupa.

Imagem: Magda Ehlers/Pexels.com

Moda é arte sim!

A relação entre arte e moda é uma colaboração contínua e frutífera, onde cada disciplina enriquece e inspira a outra. No MET Gala de 2024, essa integração foi evidente em cada criação apresentada no tapete vermelho, onde elementos de arte e moda se fundiram para criar peças verdadeiramente únicas e expressivas.

Dos padrões inspirados em obras de arte famosas aos cortes inovadores que desafiam convenções estéticas, cada traje no MET Gala era uma homenagem à interseção entre arte e moda. Mais do que nunca, ficou claro que essas duas formas de expressão compartilham um vínculo intrínseco, enriquecendo-se mutuamente e inspirando-nos a explorar novas fronteiras de criatividade e expressão.

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Helena Serpa

Mineira, feminista e graduanda de Comunicação Social – Jornalismo na UFSJ. Acredita firmemente no poder transformador do o à informação. Além disso, seu amor pela cultura, moda e esportes a impulsionam a explorar novas perspectivas e contar histórias inspiradoras por meio do jornalismo.

Paula Serpa

“Estudante de Física (bacharelado) pela UFSJ, mineira e feminista. É fascinada pela astrofísica e acredita que a ciência deve ser feita pelo povo e para o povo.”

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